Primeira Pessoa, Dom Casmurro
Se o teatro é a arte do encontro, Primeira Pessoa, Dom Casmurro , da Cia de Arte Boursoria, é o encontro entre a pretensão e a ausência de autocrítica. O recorte da obra de Machado de Assis escolhido para a encenação é um lembrete agridoce — ou simplesmente azedo — de que nem toda ideia merece sair do papel. O que se vê em cena não é uma homenagem ao maior nome do Realismo brasileiro, mas uma exumação estética: o cadáver da sutileza machadiana é vestido com roupas de brechó — mal ajustadas, puídas — e deixado em cena para balbuciar um texto reescrito às pressas, contaminado por vícios de linguagem e, talvez, por uma vergonha mal disfarçada de ousadia. A independência, nesta montagem, é ostentada como um troféu — quando talvez devesse acender um sinal de alerta. A companhia parece orgulhar-se da liberdade criativa que conquistou, mas faz uso dela, ao que tudo indica, para ignorar deliberadamente qualquer forma de bom senso narrativo. Há um certo charme na precariedade qu...