Duetos 'Uma comédia de Peter Quilter' - Um olhar perspicaz e bem-humorado

 

Duetos, uma comédia de Peter Quilter, oferece ao público instantes de entretenimento contemplando surpreendentes reflexões sobre a vida e o amor, garantindo uma experiência teatral inesquecível.

Sob preciso domínio de Ernesto Piccolo, o espetáculo mantém um ritmo ágil e envolvente graças ao excepcional domínio da narrativa e da habilidade do diretor em potencializar o talento de Patricya Travassos e de Eduardo Moscovis que assumem, com maestria, o comando do dueto em quatro esquetes, entregando performances cativantes que conquistam a plateia desde os primeiros instantes da apresentação.

Travassos, com seu brilhantismo cênico, impressiona ao transitar com facilidade entre personagens com perfis distintos, a quem cede a sua versatilidade e expressividade de tirarem o fôlego, encantando cada um dos espectadores presentes. Moscovis se apresenta dotado de magnetismo contagiante, entregando-se a desempenhos divertidos e envolventes. A química entre atriz e ator transcende os sentidos da visão e da audição, e torna-se figurativamente palpável, em meio a uma dinâmica que se manifesta em genuíno deleite ao se assistir o espetáculo.

O figurino sob a responsabilidade de Claudio Tovar demonstra seu ofício transitando entre a seriedade e o lúdico, ao retratar a personalidade de cada um dos personagens, através da leitura precisa de suas nuances – parcela integrante e indispensável da narrativa. A estratégica participação da plateia em atos de voyeurismo coletivo, devido ao sutil artifício concebido por Piccolo ao expor os momentos de construção e de desconstrução física de todos os personagens a cada repasse no visagismo e troca de figurino, é arquitetado pelo cenário minimalista criado por J.C. Serroni que, através de poucos elementos, estabelece diferentes ambientes e atmosferas que definem cada história, direcionando o foco da atenção para o desempenho dos atores em seus personagens, ao mesmo tempo em que proporciona uma sensação de familiaridade e aconchego, abraçando a plateia. O desenho de luz concebido por Aurélio de Simoni desempenha um papel crucial na criação da atmosfera do espetáculo, em perfeita sintonia com a arquitetura de Serroni e como tradutor da multiplicidade de emoções concebidas por Piccolo. A trilha sonora de Rodrigo Penna abrilhanta o espetáculo pela seleção de músicas envolventes pontuando cada momento da peça e adicionando camadas de emoção e de energia ao espetáculo. A agilidade e fluidez orgânica presentes se devem à preparação corporal orquestrada por Daniella Visco, alimentando os desempenhos de Travassos e Moscovis com dosada expressividade.

Um dos aspectos mais notáveis de Duetos é sua linguagem contemporânea, que estabelece um diálogo direto com o espectador. As situações abordadas na peça exploram temas universais, como relacionamentos modernos, encontros por meio de aplicativos, separação conjugal e a busca pela felicidade pessoal. Através de um olhar perspicaz e bem-humorado, a peça mergulha nas complexidades dessas temáticas, permitindo que o público se identifique e se divirta ao reconhecer situações do cotidiano nas suas próprias vidas – como elas são.
resenha realizada por psales e msenna

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