A Iluminada - Atmosfera singular que envolve o espetáculo
Um mergulho intrigante no universo da comédia, um passeio em meio aos excêntricos meandros dos coaches – “A iluminada”, estrelada por Heloisa Périssé, sob a direção de Mauro Farias, se revela como autêntica experiência filosófica humorística.
O monólogo, que passa ao largo da classificação de stand up comedy, é uma amálgama da genialidade do texto com a jocosidade singular de Périssé que ratifica seu excepcional talento ao dar vida à palestrante “Tia Doro” – responsável por manter a plateia plenamente dominada por suas divagações, com base na prática da constelação familiar e de life coaching. Seu discurso assume a cadeira de uma montanha-russa em escalada ascendente, com momentos de parada em ponta-cabeça, difíceis de serem identificados como se emocionais extremos, cacos previamente ensaiados, além de ‘brancos’ que, na vera ou simulados, servem até mesmo de escada para uma troca emocional junto à plateia, a ponto de provocar lágrimas de empatia, devido à quebra voluntária da quarta parede. Escatologia à parte, os termos passíveis de serem considerados chulos e de baixo calão verbalizados por comediante qualquer, proferidos por Périssé, assumem status decoroso, tangenciando a verbalização de verdades absurdas e lugares-comuns.
A direção de Farias é estrutural na construção da atmosfera singular que envolve o espetáculo. O cenário assinado por Clívia Cohen é minimalista e assume configuração de um locutório que interage de forma indissociável com a luminotecnia cênica de Paulo Cesar Medeiros que, por sua vez, interage com o texto de Périssé. O figurino concebido por Raquel Farias esculpe a funcionalidade de “Tia Doro” tendo Heloisa como modelo. O envolvimento do espectador no processo do motivacional é potencializado pela participação de Alex Lerner na elaboração do texto, conferindo ao mesmo uma perspectiva humorística peculiar, e pela trilha sonora de Max Vianna, juntamente com Périssé, bem nos moldes dos modelos que definem o roteiro das palestras desse segmento, na vida real.
"A Iluminada" manifesta-se como um poderoso ferramental narrativo simbiótico contemplando comédia e bizarrice, genuinamente brilhantes. Configura-se numa experiência desafiante às preconcepções mantenedoras da atenção da plateia, cem por cento do espetáculo-palestra e durante o qual, cada um dos espectadores se metamorfoseia, do ovo à borboleta, como se carregasse consigo o fruto de sua conquista à base de muita ‘co-co’ - Coragem e Confiança, segundo “Tia Doro”.
resenha: psales e msenna
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