Maio, antes que você me esqueça
"Maio, antes que você me esqueça" se aventura no intrincado labirinto das relações humanas frente à desafiadora jornada de um homem e seu filho pelo fragmentado território da doença de Alzheimer. Mas apesar de o tecido narrativo ter sido habilmente entrelaçado pelo neurocirurgião e dramaturgo Jair Raso, a produção peca ao não atingir as profundezas emocionais necessárias para sensibilizar adequadamente o espectador diante de tão complexa temática.
Os diálogos, embora construídos com destreza, por vezes se perdem em clichês enxertados com vieses que tangenciam a comédia, falham em estabelecer uma genuína empatia ou vínculo com os personagens, especialmente para os espectadores que já tenham enfrentado situações análogas em suas próprias vivências familiares.
A direção de Raso, embora permeada de sensibilidade, não logra transcender a falta de substância do texto. Infelizmente, o espetáculo resulta em uma experiência desarticulada e pouco cativante.
Os talentosos Ilvio Amaral e Maurício Canguçú se entregam em performances dedicadas, contudo, se vêem tolhidos por um roteiro enfraquecido e uma direção pouco inspiradora, incapazes de promover instantes de empatia por parte da plateia.
O cenário e figurino de Andréa Raso, embora sejam extensões coerentes da narrativa, carecem de originalidade e vigor, faltando elementos que, de fato, mergulhem o espectador no universo dos personagens e, dessa forma, privam a peça de vitalidade e autenticidade.
Se por um lado o desenho de luz e a seleção musical pontuam a versatilidade do neurocirurgião e diretor teatral, por outro, não conferem uma dimensão extra à jornada emocional necessária, sequer compensam as lacunas no desenvolvimento dos personagens.
"Maio, antes que você me esqueça" se propõe a explorar, sem sucesso, uma temática complexa e priva o público de uma reflexão verdadeiramente significativa sobre a doença de Alzheimer e respectivas dinâmicas familiares. Como consequência, a peça se revela uma experiência efêmera, incapaz de deixar uma marca duradoura na mente do espectador.
resenha: psales e msenna
foto: psales
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