A Viúva Clicquot
A Viúva Clicquot
O longa sobre Barbe-Nicole Ponsardin Clicquot, a viúva por detrás da renomada marca de champanhe Veuve Clicquot, está longe de ser considerada uma saga, mas oferece um vislumbre fascinante da vida de uma mulher extraordinária. Paralelamente, um olhar atento à complexa personalidade de seu marido se torna relevante quando são confrontadas as questões ligadas à sexualidade e à violência doméstica, e como o filme lida com essas dimensões.
O perfil definido para Barbe-Nicole é envolvente enquanto molda a sua resiliência e o seu sucesso em esferas socioeconômicas e culturais, dominadas exclusivamente por homens. A figura da viúva que transforma uma vinícola familiar em uma potência internacional denuncia a precocidade do conceito de empoderamento feminino, a partir de sua ousadia ao enfrentar uma cultura patriarcal e ao consagrar uma marca de um produto de qualidade inabalável.
No entanto, a simplificação da sua jornada ao longo filme, subestima a profundidade e os desafios enfrentados por mulheres pioneiras em uma época de severas limitações de gênero. A tentativa de criar uma narrativa de duas vias, intercalando a vida profissional de Barbe-Nicole com os problemas pessoais de seu falecido marido – François, desvia significativamente o foco da protagonista. A escolha pelo destaque da saúde mental e da identidade sexual conflitante de François obscurece, involuntariamente, as lutas e triunfos de Barbe-Nicole, induzindo o público a uma percepção um tanto debilitada de seu papel.
O filme também sugere, embora de maneira sutil, a possibilidade de que François e o amigo Bohne possam ter tido um relacionamento romântico – um elemento que adiciona complexidade à trama. No entanto, a maneira como isso é abordado pode ser vista como simplesmente sutil, sem explorar profundamente as implicações emocionais e sociais dessa dinâmica.
A abertura de uma janela com vistas à denúncia da violência doméstica, implícita através das tensões e problemas conjugais, é retratada através de um relacionamento abusivo – que se revela menos um conto de amor puro e mais um cenário de desigualdade e sofrimento – é crucial para entender a complexidade da vida de Barbe-Nicole. No entanto, o filme não dá a devida atenção à forma como isso poderia ter moldado suas decisões e desafios.
A representação do sofrimento emocional e a luta de Barbe-Nicole merecia ser mais bem explorada para refletir a realidade de muitas mulheres em situações semelhantes. Em vez disso, a tentativa de equilibrar a narrativa com os desafios pessoais de François acaba por obscurecer a rica tapeçaria da vida e das realizações de Barbe-Nicole, que mereciam um tratamento mais cuidadoso e equilibrado.
Por Mauro Senna
Comentários
Postar um comentário